A conexão entre clubes e casas de apostas está cada vez mais forte no Brasil. Com um número cada vez maior de patrocínios – atualmente, 18 dos 20 clubes da Série A contam com uma operadora como patrocinadora máster -, outros formatos de parceria começam a entrar em pauta.
Para discutir sobre essas possibilidades, o SBC Notícias Brasil entrou em contato com Angelo Alberoni, Partner & COO do Grupo A2FBR e Fellipe Drommond, CEO da TFW Marketing e Comunicação. Junte-se a mais um Papo de Craque e entenda mais sobre aspectos estratégicos, como o compartilhamento de receitas, desafios regulatórios e questões de jogo responsável que envolvem esse novo modelo de negócio.
SBC Notícias Brasil: Recentemente, o Flamengo lançou a Flabet, casa de apostas licenciada da equipe. Você acredita que esse tipo de solução pode ser aplicada a outros times?
Angelo Alberoni: Confesso que não vejo com bons olhos esse tipo de parceria, principalmente por questões relacionadas à integridade do jogo. Esse modelo já foi pensado em outros mercados, ainda mais maduros que o mercado brasileiro, como Espanha, Itália e, principalmente, Inglaterra. Em todos esses mercados e, inclusive no próprio Código de Conduta da FIFA, esse modelo é proibido.
Fellipe Drommond: Acredito que o modelo pode ser muito promissor, porque o Brasil tem uma característica singular comparado ao restante do mundo com torcidas que são verdadeiras nações. O Flamengo tem mais de 30 milhões de torcedores, número que é maior do que a população de importantes países da União Europeia como Grécia, Holanda e Portugal.
Porém, está longe de ser o core business de um clube de futebol atuar na gestão de uma casa de apostas, com isso será preciso uma estrutura e profissionalização muito grande para que seja possível tornar viável o plano de negócio da nova unidade de negócio.
Não conheço os detalhes da estruturação da Flabet, mas particularmente acredito que seja um modelo white label, onde uma operadora já consolidada no mercado usará o nome e marca do clube para aplicar toda sua expertise em uma nova vertical, pagando um royaltie variável para o clube como um modelo de licenciamento e aí sim pode tornar a operação mais simples para que seja um negócio de sucesso.
SBC Notícias Brasil Que outros tipos de parceria, além do pagamento de patrocínio para exibição de marca, podem ser explorados pelos clubes e casas de apostas?
Angelo Alberoni: Existe uma complexidade nas possibilidades amplas de parcerias entre clubes de futebol e sites de apostas, uma vez que a receita gerada diretamente pelos eventos onde os clubes são participantes não pode ser revertida para o caixa dos mesmos, tal como mencionada a questão da integridade.
Ao olhar de uma maneira mais relacionada ao branding ou mesmo a performance voltada para a aquisição de novos jogadores, as parcerias podem ser exploradas de forma mais direta, tal como ativações em dias de jogos, visitas guiadas aos treinos com a interação de fãs/clientes com seus ídolos e outras tantas, sem misturar a receita final de um site com objetivos econômicos dos clubes.
Fellipe Drommond: Tivemos uma primeira onda do mercado de casas de apostas que foi direcionada para a construção e posicionamento das marcas diante do público em geral. Agora, com a consolidação da regulamentação, teremos um novo momento onde será necessário cada vez mais conversar com o consumidor muito além da exposição da marca.
Acredito que estamos na era do marketing de causa, onde as marcas precisam demonstrar porque estão apoiando uma determinada modalidade, clube ou competição com diretrizes que no médio e longo prazo possam revolucionar a entidade apoiada, consolidando a credibilidade da marca. Eventos proprietários, ações de relacionamento com os fãs, reformas de espaços públicos , ações promocionais, produção de conteúdos audiovisuais são alguns exemplos de verticais que podem ser melhor exploradas pelas marcas.
Um modelo de divisão parcial de receitas entre patrocinador e clube é algo viável?
Angelo Alberoni: Como explicado acima, não acredito que uma divisão de receitas na atividade fim de um site onde um dos beneficiários é um clube de futebol, que participa do resultado esportivo e é capaz de influenciar neste resultado final, seja algo viável. Isso, por si só, na minha opinião, é um bloqueio claro para esse tipo de modelo.
Fellipe Drommond: Este é um modelo já existe nos clubes no formato de licenciamento de marca, mas do ponto de vista do patrocínio exclusivamente não vejo como uma realidade próxima, porque o valor agregado da exposição da marca nos uniformes de clubes e entidades esportivas tem um retorno muito relevante que demanda um investimento pré-fixado e garantido para remuneração e planejamento macro dos patrocinados.
O modelo misto pode ser mais atrativo , com um valor mínimo garantido pela exposição e uma expectativa variável de acordo com a performance, porém as métricas de mensuração também precisam estar muito claras para gerar segurança ao mercado.
O que o público pode esperar desse painel?
Angelo Alberoni: Acredito que o Painel será interessante por trazer pontos de vista diferentes, sobre um assunto que será cada vez mais debatido no mercado brasileiro, apesar de já ter sido alvo de debate em outros mercados e, tal como dito acima, fortemente proíbido por conta de um conflito claro relacionado à integridade do jogo.
Fellipe Drommond: Será um painel muito atrativo, onde reuniremos dois grandes players do mercado com dois gestores de clubes esportivos e isso proporcionará uma discussão ampla sobre o tema das equipes esportivas utilizando suas marcas para explorar casas de apostas esportivas próprias.
Entender as dificuldades da operação de um clube e a complexidade de uma nova empresa será o grande diferencial para quem acompanhar esse painel, além de acompanhar os insights, tendências e expectativas do mercado.
Angelo Alberoni e Fellipe Drommond estarão presentes no SBC Summit Rio, como palestrantes no painel Clubes esportivos como novos operadores de apostas?
A lista completa de palestrantes da segunda edição do SBC Summit Rio está disponível aqui.
Os ingressos do SBC Summit Rio 2025, incluindo os de cortesia para o piso de exposição, estão disponíveis aqui. Operadoras podem solicitá-los gratuitamente aqui; afiliados, aqui.
Source: SBC Noticias BR