O ano de 2025 trouxe consigo, ainda na primeira semana, uma mudança revolucionária para o Brasil: a regulamentação do mercado de apostas e jogos on-line. E agora em uma indústria com regras rígidas de compliance e de publicidade, as operadoras precisam se adaptar e botar para jogo suas melhores estratégias.
Quais são as tendências para o meio de compliance? Quais são as principais fraudes que o setor enfrenta e como combatê-las? Pensando em soluções inovadoras e como superar desafios de compliance sem violar leis de segurança, o SBC Notícias Brasil entrevistou Roberta Guedes, head de Compliance Regulatório da Betfast.io, com mais de 15 anos de experiência no setor regulado.
Durante o SBC Summit Rio 2025, Guedes participará do painel “A Collaborative Approach to Fraud Prevention”, mas já deu uma palinha para o portal sobre os temas mais relevantes de compliance e proteção ao jogador.
SBC Notícias Brasil: Quais são as principais “tendências” de fraudes financeiras que observamos hoje no setor de apostas e jogos on-line?
Roberta Guedes: A Secretaria de Prêmios e Apostas (SPA) tem demonstrado alinhamento consistente com as diretrizes regulatórias do Banco Central do Brasil (Bacen). Em particular, em uma recente discussão promovida no formato de podcast, com a participação do Coordenador-Geral de Monitoramento de Lavagem de Dinheiro e Outros Delitos, Sr. Frederico Justo, sobre a Portaria nº 1.103/2024, foi ressaltado que as bases normativas do Bacen, bem como padrões internacionais, foram elementos fundamentais de referência e inspiração para a formulação da norma em questão.
Nesse contexto, identificam-se como temas prioritários para monitoramento contínuo as seguintes práticas e riscos: fraude de identidade, fraude de pagamento, lavagem de dinheiro, conluio, manipulação de resultados (match-fixing), uso de automação e bots, exploração de ofertas promocionais, ataques de phishing para obtenção de credenciais e a exploração de vulnerabilidades tecnológicas.
Para mitigar tais riscos, recomendo as seguintes ações estratégicas:
- Adoção de soluções tecnológicas avançadas: investimento em sistemas de segurança baseados em inteligência artificial e blockchain (monitorado), para detecção proativa de comportamentos anômalos.
- Programas robustos de compliance: estruturação de controles internos alinhados às melhores práticas regulatórias.
- Capacitação e conscientização: promoção de treinamentos regulares para colaboradores internos e parceiros afiliados, com foco em combate a fraudes.
- Estabelecimento de contratos detalhados: desenvolvimento de cláusulas contratuais específicas para prevenir e coibir abusos relacionados aos riscos identificados.
- Fortalecimento de parcerias institucionais: comitês proporcionando colaboração ativa com órgãos reguladores e outros agentes do setor, para o aprimoramento de agendas regulatórias e a criação de mecanismos de escuta técnica por parte dos reguladores.
Essa abordagem integrada visa reforçar a segurança e a integridade do setor, promovendo conformidade regulatória e a proteção do consumidor.
SBC Notícias Brasil: Que tipo de tecnologias (como inteligência artificial) tem sido mais eficaz na prevenção de fraudes no segmento?
Roberta Guedes: Os profissionais envolvidos na gestão de Jogo Responsável têm enfrentado impactos expressivos decorrentes do atual cenário de transformação histórica no setor. O segmento de apostas no Brasil passou de uma atividade com legislações pontuais e pouco abrangente para uma realidade marcada por exigências complexas de conformidade regulatória.
Nesse sentido, torna-se essencial a contratação de profissionais que possuam experiência prática em setores regulados no Brasil, indo além de perfis jurídicos tradicionalmente institucionais voltados ao contencioso ou à gestão de ações judiciais. É imprescindível que esses profissionais compreendam o funcionamento dinâmico do ambiente regulatório, bem como as nuances de interpretação de riscos realizadas pelos diferentes reguladores do país.
Cada órgão regulador brasileiro apresenta características singulares. Compreender essas especificidades e antecipar como tais entidades avaliam e tratam os riscos é um diferencial estratégico para assegurar o cumprimento eficiente das normas aplicáveis.
Neste contexto, a adaptação de ferramentas consolidadas em outros setores regulados apresenta uma oportunidade promissora para o desenvolvimento de soluções específicas voltadas ao atendimento das exigências do setor de apostas. Além disso, identifica-se um potencial significativo para o uso de tecnologias avançadas, como a inteligência artificial, no monitoramento de fraudes específicas do mercado de apostas no Brasil.
Adicionalmente, tecnologias voltadas ao monitoramento de normas regulatórias aplicáveis às diretrizes da Secretaria de Prêmios e Apostas (SPA), da Autoridade Nacional de Proteção de Dados (ANPD) e do Banco Central do Brasil (Bacen), podem desempenhar um papel crucial. Essas ferramentas têm o potencial de sugerir ações estratégicas e auxiliar os departamentos de Compliance no gerenciamento e na distribuição de obrigações regulatórias às demais áreas das empresas, promovendo maior eficiência operacional.
Com essa abordagem integrada, o setor estará mais bem preparado para enfrentar os desafios regulatórios e fortalecer sua credibilidade perante os reguladores e o mercado.
SBC Notícias Brasil: Sabemos que, para um ecossistema funcionar, é necessário trabalho em equipe. Há exemplos de parcerias bem-sucedidas entre empresas privadas e governos para combater fraudes financeiras no setor?
Roberta Guedes: Defendo consistentemente que, no cenário empresarial contemporâneo, o setor de Compliance deve atuar em estreita colaboração com as demais áreas da Organização. A efetividade dessa integração exige treinamentos detalhados e customizados, alinhados às particularidades de cada operação.
A capacitação contínua dos colaboradores, especialmente daqueles que estão em processo de adaptação às novas exigências regulatórias, é um diferencial estratégico.
Nesse sentido, o Compliance não deve ser percebido como um obstáculo, tampouco operar como uma área isolada dentro da Organização. Para desempenhar adequadamente sua função como segunda linha de defesa e fornecer subsídios robustos para auditorias internas e externas, o Compliance deve adotar uma abordagem educativa e prática. Isso inclui:
Educação e orientação: identificar as necessidades específicas de cada área, explicitar as exigências regulatórias aplicáveis e fornecer suporte contínuo para o entendimento e a execução dessas demandas.
Monitoramento ativo: acompanhar a implementação das normas e diretrizes, garantindo a conformidade em tempo real.
Diálogo aberto: manter um canal de comunicação acessível para esclarecer dúvidas e fornecer orientações, promovendo um ambiente de colaboração e confiança.
A área regulatória deve fomentar uma cultura de proximidade e proatividade, interagindo diretamente com o operacional, antecipando demandas e participando ativamente das rotinas organizacionais. Essa postura inclui a provocação de debates e a troca constante de informações, além de uma abordagem analítica e executora, com foco no desenvolvimento e realização de treinamentos eficazes.
Por fim, sustento que a cobrança de resultados ou eficiência das áreas operacionais deve ocorrer somente após garantir que os profissionais envolvidos compreendam plenamente suas responsabilidades e saibam como executá-las. Como princípios norteadores das minhas práticas institucionais, destaco dois mantras (criados por mim) essenciais:
É sempre “só” o começo: o aprendizado e a adaptação são processos contínuos e devem ser cultivados em todas as etapas. Todo dia tem novidades no setor regulado. Agilidade, pensar rápido e estar estruturado é diferenciado.
“Na dúvida, acione o time de compliance”: nenhuma questão, por menor que pareça, deve ser ignorada; o compliance deve ser a referência primária para orientações e instruções.
Essa abordagem promove um ambiente organizacional mais seguro, colaborativo e aderente às exigências regulatórias.
SBC Notícias Brasil: Por fim, o que você prevê como tendências futuras na prevenção de fraudes financeiras no setor de jogos on-line?
Roberta Guedes: No atual cenário, caracterizado pela predominância de atividades digitais, a gestão eficiente das informações emerge como um fator crítico de diferenciação competitiva e mitigação de riscos no setor. Nesse contexto, os profissionais de segurança da informação assumem um papel estratégico e indispensável, uma vez que são responsáveis por implementar, monitorar e aprimorar os controles que garantem a confidencialidade, integridade e disponibilidade dos dados.
O fortalecimento das práticas de segurança cibernética não apenas protege os ativos informacionais, mas também assegura a conformidade com regulamentações aplicáveis, mitigando riscos relacionados à vulnerabilidade tecnológica e ao uso indevido de informações sensíveis.
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Roberta também está disponível nas redes sociais, onde fala sobre o mercado de apostas e compartilha ensinamentos do setor.
Source: SBC Noticias BR